Oficina “Aprendendo com Mestres Haijins – um intercâmbio cultural” é a segunda etapa do projeto com o menor poema do mundo

Nesta semana, iniciamos a oficina Aprendendo com Mestres e Haijins – um intercâmbio cultural, com o objetivo de conhecer, brevemente, a trajetória de alguns mestres haicaístas, de Bashô aos contemporâneos. Para isto, a proposta é fazer um mural com a biografia, fotos e haicais, expô-lo na sala de aula por meio de uma estética visual que aproxima referências simbólicas do Brasil e Japão.

Além de pesquisa individual e em duplas, a atividade envolveu a escrita das biografias, colagens de fotografias e um haicai de cada haijin. Uma forma de exercitar os mecanismos de leitura, compreensão e interpretação, à medida que realizam a proposta, contribuindo de forma interdisciplinar no campo da linguagens artísticas.

Matsuo Bashô; Nenpuku Sato; Masuda Goga; Teruko Oda; Vanice Zimerman; George Goldberg; Carlos Martins; Maria Cristina Chinen Robertson; Maurício de Oliveira; Lizziane Azevedo; Aparecida Ramos da Silva; Maria Tereza de Sá; Martha Maria Maia; Vilmar Donizetti, Zunir Andrade; Elciane de Lima Paulino são os contemplados para fazer parte do mural, o qual ilustra, resumidamente, o encadeamento de saberes de uma geração a outra.

O haicai clássico brasileiro é inspirado no maior expoente da literatura haicaísta no Japão do período Edo: Matsuo Basho (Tóquio 1644 – Osaka, 1964). O período Edo é conhecido na história do país que foi governado pelos xoguns (título militar usado no Japão feudal) da família Tokugawa, de março de 1603 a maio de 1868, na então cidade de Edo (atual Tóquio). Sua poesia é reconhecida internacionalmente, tendo aportado no Brasil e superado as fronteiras linguísticas através dos imigrantes japoneses.

Nenpuko Sato (1898 -1979) é considerado o principal responsável pela conservação e difusão da prática do haicai no Brasil. Porém escrevia apenas em sua língua natal. Um de seus discípulos, Masuda Goga (1911-1993), no entanto, incumbiu-se de pesquisar os kigos (termo sazonal, ou palavra de estação) brasileiros. Além desta tarefa, Goga contou, para brasileiros e japoneses, a história da recepção do haicai no Brasil e escreveu haicais em português. Em 1987, Goga e outros praticantes nisseis fundaram a primeira associação dedicada à prática de haicai tradicional em português – O Grêmio Haicai Ipê, grupo de estudo e prática do haicai em língua portuguesa, do qual até hoje participam grandes mestres do gênero, dentre os quais, a líder Teruko Oda, sobrinha e discípula de Goga.

Com a disseminação de estudos e informações impressos e na internet, surgem outros grupos: La Senda Del Haiku (https://lasendadelhaiku.com), projeto criado por Antonio Jesús Ramírez Pedrosa, que busca dar voz ao haicai em espanhol, do qual faz parte George Goldberg; O Zen do Haicai, no Facebook, cujo administrador é o Mestre Carlos Martins e do qual participam todos os poetas biografados, a exemplo de Maria Cristina Chinen Robertson e Lizziane Montenegro; Chá das Cinco, no WhatsApp, conduzido pela Mestra Vanice Zimerman e pelo haijin e grande colaborador Maurício de Oliveira. Deste último grupo, fazem parte os haijins Aparecida Ramos, Vilmar Donizetti, Zunir Andrade, Marisa Tereza de Sá, Martha Maria Maia, Marli Melris, Elciane de Lima Paulino, entre outros.

O leitor poderia questionar porque selecionamos estes nomes para compor o mural. É uma pergunta intrigante, mesmo porque gostaríamos de incluir outros, mas, pela natureza do próprio gênero mural, selecionamos aqueles que foram criando as primeiras conexões entre nós e este gênero tão apaixonante: o haicai.

REFERÊNCIAS

FABIANO, Antonio (Seishin). O canto do inseto. Jundiaí: Telucazu Edições, 2024.

HANA, Shiroi. Quimonos Entrelaçados: tankas de amor. Porto Alegre: Bestiário, 2025.

IURA, Edson. Cesto de Caquis: notas sobre haicais. Jundiaí: Telucazu Edições, 2021.

LA SENDA DEL HAIKU. Entrevista a George Goldberg, haijin y creador de Haikai Zen. Disponível em: <https://lasendadelhaiku.com/2024/03/09/entrevista-a-george-goldberg-haijin-y-creador-de-haikai-zen/>. Pesquisa em 03/07/2025.

ODA, Teruko. Goga e Haicai: um sonho brasileiro. São Paulo: Escrituras Editora, 2011.

OLIVEIRA, Maurício; ZIMERMAN, Vanice (Org.). Reflexos do Haijin: Antologia de haicais. São Paulo: 2025.

2 comentários sobre “Oficina “Aprendendo com Mestres Haijins – um intercâmbio cultural” é a segunda etapa do projeto com o menor poema do mundo

  1. Amigas e amigos
    É comum os haicaístas entenderem o haicai como algo além da literatura em sentido estrito: como um “caminho”, um “dô” em japonês, a exemplo de “kendô”, o caminho da espada ou “chadô”, o caminho do chá: no nosso caso, haicaidô, ou o Caminho do Haicai.
    Grafei em iniciais maiúsculas para expressar a importância que damos a esse “modo de vida”: por isso o mais que literatura (apesar de também sê-la!
    E nesse andar, contemplar, viver a experiência haicaísta, encontramos gente como a gente que está insatisfeita que o mundo seja impermanente, que quer registrar a beleza da existência da maneira com que um Poder Superior a nós mesmos orientou fazê-lo: com a palavra, o amor primordial do ser humano; aquela que primeiro nos conectou com a realidade do mundo. Gente como nossos primeiros heróis e heroínas, nossos professores e professoras, padrinhos e madrinhas a nos inserir neste mundo diverso e maravilhoso, a amá-lo e…querer eternizá-lo em palavras, palavras,… Gente como a professora Elciane, nossa confreira do grupo “O Zen do Haicai”, que tivemos a satisfação de conhecer numa das curvas do Caminho. Parabéns, pessoal, por tê-la como Mestra!
    Por fim, não imaginam como me senti honrado por estar no mural de vocês, pela mão de vocês, e na companhia de tanta gente boa que pratica esse poeminha delicioso!

    Noite estrelada
    Meninas, meninos e sonhos
    na volta da escola

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    • Mestre Carlos Martins,

      Quanta sensibilidade em seu olhar! O que mais me toca no haicai é exatamente essa capacidade de enxergar além da forma ou do sentido literal/ figurado. Há vida que pulsa: há consciência da impermanência e, por isso mesmo, há atenção com o que a natureza nos ensina e pode ensinar para as futuras gerações: aqui também entra a palavra, entra o projeto, sobretudo, o haicai. Muito obrigada, mestre! 🙏🤗👏🏽👏🏽👏🏽

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