Por Laura Nayane Albuquerque Diniz, 2º A
A obra A igreja do Diabo é um conto do livro Histórias Sem Datas, de Machado de Assis, escrito em 1884. O conto relata que, um dia, estando profundamente entediado, o Diabo teve a ideia de fundar a sua própria igreja.
“Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez.”
E rápido, batendo as asas, saiu das sombras para o infinito azul, para poder comunicar a Deus o seu plano mirabolante. Deus recolhia um ancião, quando o Diabo chegou ao céu. Os serafins que adornavam o recém-chegado contiveram-se logo, e o Diabo entrou com os olhos voltados ao Senhor.
Em sua curta conversa com Deus, o Diabo, além de provocá-lo em todas as oportunidades, gabava-se dos planos que tinha para fundar a sua igreja e atrair fiéis. E tendo Deus contestado e reprimido tais ofensas, impôs-lhe o silêncio, o fazendo cair sob a terra.
Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto. Apressou-se em espalhar uma doutrina nova e extraordinária. Ele prometia aos seus discípulos as delícias da terra; todas as glórias; os prazeres mais íntimos. Confessava que era o Diabo, mas confessava para desconstruir a noção que os homens tinham dele.
“Sim, sou o Diabo. Não o Diabo das noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças, mas o Diabo verdadeiro e único, o próprio gênio da natureza, a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos homens. Vede-me gentil e airoso. Sou o vosso verdadeiro pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu desdouro, fazei dele um troféu e um lábaro, e eu vos darei tudo, tudo, tudo…”
Era assim que falava, a princípio, para excitar o entusiasmo e congregar multidões ao pé de si. E elas vieram; e logo que vieram, o Diabo passou a definir a doutrina. Pela sua parte o Diabo prometia substituir a vinha do Senhor, pela vinha do Diabo, pois não faltaria nunca aos seus com o fruto das mais belas cepas do mundo.
O diabo, então, incutiu grandes golpes de eloquência, trocando a noção das coisas, fazendo com que seus fiéis amassem as perversas e detestassem as sãs. Incitando assim a ira, a soberba, a luxúria, a inveja e outras “virtudes” de sua doutrina. A igreja foi fundada e sua doutrina propagada. “Não havia uma região do globo que não a conhecesse, uma língua que não a traduzisse, uma raça que não a amasse. O Diabo havia triunfado.”
Um dia, porém, longos anos depois, notou o Diabo que muitos dos seus fiéis, às escondidas, praticavam as antigas virtudes. Não as praticavam todas, nem integralmente, mas algumas, por partes, às ocultas. Algumas pessoas recolhiam-se em cumprir preceitos católicos; muitos ainda davam esmolas à noite; os fraudulentos falavam, uma ou outra vez, com o coração nas mãos.
A descoberta assombrou o Diabo. Meteu-se a conhecer mais diretamente o mal, e viu que lavrava muito. Não se deteve um instante. O baque não lhe deu tempo de refletir, comparar e concluir do espetáculo presente alguma coisa análoga ao passado. Voou de novo ao céu, trêmulo de raiva, ansioso de conhecer a causa secreta de tão singular fenômeno.
O conto nos faz refletir sobre a grande contrariedade do ser humano, que tendo de se esforçar para seguir aquilo que lhe fora determinado, acaba por fazer totalmente o contrário. Podemos tomar como exemplo o caso de muitos religiosos, que, tendo sido ensinados a obedecer diversos preceitos, fazem o oposto. Sendo ensinados a amar o próximo, destilam ódio de todas as maneiras possíveis. A ironia neste conto se dá pelo conflito moral do homem. Ordenando o Diabo fazer o mal, as pessoas passaram a praticar o bem; e do mesmo modo como ocorre no caso contrário, às escondidas.
Parabéns, LAURA NAYANE!
Vovê sempre foi uma aluna maravilhosa e muito aplicada. Responsável e dedicada aos estudos.
Muito belo seu trabalho. Perfeita análise da Obra de Machado de Assis!
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Muito obrigada, professora Elimary! É demasiado gratificante receber esse carinho de professores que, assim como você, buscam auxiliar e incentivar os alunos. Tens a minha admiração. Um abraço, saudades.
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Obrigada, minha querida. Você terá sempre a minha admiração e o meu carinho!
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