Elciane de Lima Paulino
_ A alma de um pastor, Pessoa
O desabrochar do amor conhece.
_ Só de pensar, sinto que cansa
Pesa-me o amanhecer e anoitece.
_ Mas o negro astral assiste
O nascer da estrela triste
Que ama só o luar celeste.
_ Cerca de grandes muros são astros
Que me ocultam à Lua de ver.
_ Deixa as flores que vêm do chão crescer
Que as borboletas de tão pretas
Farão contraste do luar ao amanhecer.
_ Amigo Caeiro, o amor que sonhas
É como a flor nativa da roça
Que ervas sarcásticas risonhas
Para ti perdem e não há quem possa.
_ Parece que, tirando-lhe o meu chapéu,
Do cimo desse outeiro
A luz do meu candeeiro
Não é maior que a do céu inteiro.
_ Enquanto te ouço, no tempo nublado
Ela se esquenta num branco candor.
_ Para ti, nuvem quente é seu namorado?
Para ela, talvez, a carência de amor?
_ Cessa o teu canto. Fizeste-me chorar
Brandaram encanto na alma chuvosa
Teu versos fagueiros de afável pomar
Mas já amanhece, o sol aparece
E a Lua se esconde do meu doce olhar.