Elciane de Lima Paulino
Hoje senti inevitável necessidade de consultar o Ptah Hotep. Já havia passado por uma situação de muito constrangimento ao ouvir uma palavra de alguém. Situação na qual desejei saber o que se passa na consciência individual de cada ser, mas acredito que nem a ciência ainda foi capaz disso – o que se sabe é que qualquer projeto discursivo ao ser materializado passa por diferentes transformações, em virtude do contexto da verbalização. E mais, a palavra não pode ser apreendida apenas pelos métodos linguísticos.
Eu estava no refeitório da faculdade ouvindo a discussão entre dois filósofos carinhosamente conhecidos na academia como Pinky e Cérebro.
– O que vamos fazer hoje?
– O que fazemos todos os dias, tentar concluir aquele capítulo da pesquisa! Traga-me o Ptah Hotep. Quero descobrir uma fórmula que determina o pensamento individual. Assim seremos reconhecidos no mundo todo pela grande descoberta.
– “Suprime o teu desejo e controla a tua boca.”
– O que você disse?
“- Não digas uma coisa e a seguir outra, nem coloques uma coisa no lugar de outra.”
– Você está insinuando que eu falo demais e que meus planos não darão certo?
– Não, Bryan. Eu estou lendo algumas máximas do Ptah Hotep. Veja ao seu redor.
Todos, no refeitório, não conseguiram desviar os olhares dos dois, muito menos eu que fiquei curioso para consultar aquela referência bibliográfica.
Houve um mal-entendido na compreensão de um para com o discurso do outro, na minha humilíssima visão, que de tão humilde também pode estar errada. Ora se até Ptolomeu errou em sua teoria, imagine eu! Não devo incorrer nesse erro, afinal “deformar a linguagem não sustenta ninguém”, já dizia o grande sábio.