Elciane L. Paulino
Qual a emoção… do cientista diante da descoberta, do contemplado de um bilhete de mega prêmio, do paciente diante da cura? Penso que, se não experimentei tal emoção, vivi algo superior – o rosto virou leito de rio e os olhos confundiram-se com estrelas.
“Culpa” de um garoto da escola, colecionador de desesperanças e advertências. Morava com o pai, desde que a mãe o abandonara no desmame dos três dias de nascido. Cresceu arredio sem o calor materno. O pai, de tanto tentar ser mãe, viu-se impotente sendo pai.
A incerteza de um coração indomável movia frustradas experiências docentes. Certa vez, aprontou mais uma de suas peripécias. Cansada de insucessos, superei os limites de minha autoridade e prometi-lhe: “Basta! Você será transferido! Se não conseguimos contribuir com o seu sucesso, outra escola o fará!” O menino parecia estar no “Congresso Internacional do Medo”, seus olhos agora brilhavam… de desamparo… de medo, e um pedido de perdão irradiou o dia. Ouvidos atentos aos olhos, quebrei a promessa e dei-lhe mais uma chance.
Quase que imperceptivelmente, foi mostrando interesse pelas aulas. Para a surpresa da classe, eu disse, um dia: “Além desse diário de advertências, guardo comigo um caderno de elogios, o qual recebeu hoje pela primeira vez, em dois anos, o nome de Carlito”.
Aparentemente constrangido, o menino concretizou num sorriso a esperança das “sementinhas do vir-a-ser”, e, em vez de palavras descabidas, gritou internamente: “Ela é a melhor pessoa do mundo” – de tão altas, o coração transbordou, e todos ficaram sabendo que na natureza tudo se transforma. O prêmio da descoberta do novo superou a cura de uma visão estereotipada e distorcida das possibilidades de transformação de tudo.