Elciane de Lima Paulino

Certa manhã, à beira do rio, uma andorinha pousou inquieta, convalescente e ensimesmada na frente da lavandeira, que realizava alegremente sua última lavagem de roupa. Aquela vinha esbravejando aos quatro cantos do mundo até encontrar-se naquele estado. Não foi através do barulho das águas que a lavandeira se fez entendê-la, a própria viajante alada, com muito esforço, deu-lhe o discernimento.
– “Uma andorinha só não faz verão”? Perguntou-lhe ofegante, achando que a amiga poderia ajudá-la.
– É o que todos dizem quando se sentem péssimos, não é verdade?
– Errado. Eu não me sinto bem trabalhando sozinha, no entanto, faço a minha parte porque a minha natureza me fez disposta a trabalhar durante todas as estações sabendo que só me realizaria quando fizesse verão.
– O que esperas de mim, D. Andorinha?
– Penso que a solidão também tem o seu lado bom. Pois veja bem, minha senhora, me mandaram periquitos e papagaios para ajudar no meu serviço…
– E daí?
– E daí que se formaram dois grandes grupos. O grupo dos papagaios comandava muito bem, tinha um ótimo discurso, era instigante por natureza. Os periquitos, por sua vez, cantarolavam como ninguém, seus feitos eram indispensáveis, além do mais, tranquilos e sociáveis.
– Por que estás tão abalada?
– Pobre de ti, senhora, não percebes que a natureza foi falha, uma vez que nenhum deles conseguiu enxergar a importância do meu trabalho individual? Nem mesmo enxergaram o que, sozinha, pude oferecer. Eu nunca me senti tão só, estando em companhia alheia!
A lavandeira percebeu que a andorinha tinha muita roupa suja para lavar, mas preferia carregar o peso daquela trouxa sozinha em vez de aceitar ajuda. Por isso, resolveu dizer-lhe as palavras sábias do dia:
– O infinito é distante demais para que carregues o teu pesar; sacode essa sujeira e voa livre no infinito azul. Reconhece-te a ti mesma, pois a ingratidão nada importará, quando passares a pensar assim, passarinho.
A andorinha não disse mais uma palavra. Olhou para o infinito de sua consciência individual, para o âmago do reconhecimento de si e voou. A lavandeira, vendo-a agora voar abertamente sobre aquele céu fulgurante, percebeu que no final tudo termina bem.
Moral: A alma se torna leve ao desprender-se do peso do julgamento alheio e, no final, tudo termina bem.